Moradores do Jardim Bonfiglioli dizem como lidam com perdas causadas por enchentes

“Nunca choveu tanto”, pensa todo ano o paulistano. Contudo, a cidade, que já nasceu no entrerrios, segue com uma estrutura para escoamento subdimensionada. A expansão, feita sem planejamento, agrava a erosão e a impermeabilização do solo, dificulta o escoamento dos rios e gera ainda mais enchentes.

“Nós não precisamos do aquecimento global para morrermos afogados na cidade”, diz Álvaro Rodrigues dos Santos, consultor em geologia e geotecnia e ex-diretor de planejamento e gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).

As chuvas que vêm castigando a cidade desde dezembro fizeram moradores retomarem suas maratonas antienchentes, que incluem subir comportas, levantar móveis, mudar para o andar de cima da casa e fugir com carros para regiões elevadas.

Um arsenal antienchentes na zona oeste

Como em um desenho animado no qual o personagem tapa um vazamento e, na sequência, jorra água de outro furo: é assim que Ideli Del Tedesco, 62, moradora da rua José Aires Neto, no Jardim Bonfiglioli, zona oeste, diz se sentir. São 28 anos no casarão com o marido, Irineu Del Tedesco Jr., 62, convivendo com sucessivas enchentes –e fazendo obras para vencê-las.





Entre os prejuízos, estão o jardim destruído, infiltração no teto, sistema elétrico prejudicado e vidro da sala cedendo. “Somos idosos. Temos dificuldade de repor tudo”, diz ela.

No álbum de família, a água está presente. Em 1999, na formatura de um dos filhos, o nível chegou a 70 cm. O smoking pendurado na cadeira fez companhia aos eletrodomésticos boiando e foi salvo por um secador de cabelos quando a energia voltou.

Neste ano, no dia 15 de janeiro, ao sinal dos relâmpagos, Ideli enrolou os tapetes orientais e subiu-os. Com febre, o marido levou os dois carros para uma área elevada.

Ao projeto inicial feito por um arquiteto para a casa de 300 m2, somam-se hoje comportas e muros elevados e reforçados. A piscina de fibra de vidro foi trocada por uma de vinil, mais fácil de substituir em caso de perda –o que já aconteceu.

“Cheguei ao limite. Vou pedir ao menos isenção do IPTU”, diz Ideli. O último veio no valor de R$ 4.300.

Fonte: Folha de S. Paulo





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