Tem um muro no meio do caminho dos moradores do morro do Querosene, no Butantã, zona oeste de São Paulo.
Uma disputa de vizinhos pelo acesso a uma fonte do século 18, usada por bandeirantes e tropeiros para coleta de água, criou um embaraço jurídico para a prefeitura.
De um lado, os moradores dizem que a construção é ilegal porque um decreto de 2003 torna a passagem para a mina uma rua pública, agora fechada por uma parede.
Do outro, os donos da gleba dizem que a propriedade é particular e que estão em acordo com as leis municipais e com as determinações da Subprefeitura do Butantã.
Em cima do muro, a Prefeitura de São Paulo diz não saber como resolver a questão. Com a divisória, erguida em agosto de 2008, a rua da Fonte, que deveria ter 85 metros, passou a ter metade disso.
As lamentações pelo muro cresceram. A previsão da abertura de estação de metrô perto dali causou alvoroço no mercado, que está de olho no terreno de 39 mil metros quadrados –quase o dobro do parque Buenos Aires, em Higienópolis (zona oeste)– para construção de prédios.
PUREZA
A discussão envolve até a qualidade da água da fonte, que desemboca no córrego Pirajuçara e corre para o rio Pinheiros. Moradores mostram um laudo da Sabesp que atesta a pureza.
Os donos dizem ter uma análise do Instituto Adolfo Lutz que indica coliformes fecais e excesso de ferro.
A origem da fonte é incerta, mas acredita-se que ela tenha mais de 300 anos. Há registros de 1765 documentados por sertanistas que já citam esse olho d’água.
Ao lado do Instituto Butantan, o morro do Querosene é reduto de artistas e ainda preserva os ares de bairro.
Crianças brincam nas calçadas. O nome surgiu porque, no passado, bairros vizinhos, como Vila Sônia e Jardim Bonfiglioli, tinham energia elétrica e os moradores dali viviam de candeeiros.
Fonte: Folha de S. Paulo